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O Cultivo e Tratamento do Linho

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O Cultivo e Tratamento do Linho Empty O Cultivo e Tratamento do Linho

Mensagem  André Filipe Sex Abr 09, 2010 1:08 pm

O linho foi, na vida tradicional altiminhota de outros tempos, um cultivo de todas as casas, objecto de muitos cuidados não só pelos réditos que ocasionava mas também para satisfazer as necessidades de vestir da família.
Desde o campo até á toalha de mesa ou á camisa, desde a sementeira á ripagem e da massagem até ao tear, o linho obrigava a sucessivos trabalhos, familiares ou com a ajuda dos vizinhos, distribuídos ao longo do ano e geralmente feito só por mulheres.
As "arrincadas do linho", as célebres espadeladas e os fiadeiros enchiam as aldeias de trabalhos, de alarido, de ocasiões de variados encontros ("quem namora ao lado do fuso, ou é tolo ou não tem uso") e de oportunidade de criação e tranmissão folclórica.
As peças de linho e a sua brancura eram o espelho da dona da casa. Na nossa literatura popular, as mais diversas alusões á mulher e aos seus padrões de conduta evocam-se sistematicamente por este prisma:

"-Minha mãe, pra que nasci eu?
-Para fiar, parir e chorar."

-A fiar e a tecer ganha a mulher que comer.
-A mulher louca, antes rabeca que roca.
-Mulher que muito se mira, pouco fia.
-Fiar e calar é fazer-se amar.

"As voltas que o linho leva
antes de ir para o tear,
não são tantas como as voltas
que eu neste vira vou dar."


Começa a rarear o número dos que semeiam linho. Porque é trabalho difícil e pouco compensador, visto o pano cru, o riscado e as flanelas ficarem bastante mais em conta.
Mas há quem se mantenha fiel á tradição, vinda de tempos imemoriais.
Escolhida a leira, que pelo tamanho e condições de fertilidade mais convenha, ali fica ele, até a flor azul desabrochar, a reflectir a cor do céu e, mais tarde, a baganha se tornar pesada e dum castanho escuro.
Então é arrancado, tarefa bastante árdua: manada por manada a pôr no carro e a descarregar, em longas resmas; do mesmo modo a ser passado pelos ripos, entalados nas rodas do carro de bois, para tirar a semente - um deles enfeitao com um ramo, que o grupo não pode deixar roubar - e a ser atado em molhos, a levar á presa, onde ficará durante oito dias mergulhado na água.
Depois é estendido em paul soalheiro, para secar, após o que é transportado para o engenho (fulão).
É mais tarde espadelado, a fim de libertar a fibra das arestas que ainda restam, passado pelos dentes do rastelo ou sedeiro e disposto, finalmente, em estrigas loiras, até ser fiado.
Entra nas rocas e, nas noites longas de Inverno, á volta da lareira, aí ficam as mulheres com o fuso a deslizar entre os dedos, puxando o fio.
Passa a meada nos sarilhos, a novelos por meiodas dobadouras; o caneleiro prepara-o para entrar nas lançadeiras e o tear transforma-o em toalhas, camisas, lençóis e outras peças de uso doméstico ou de vestuário.
Trabalho amorosamente realizado, rápido e quase a não exigir senão esforço físico, se é liso e corrido, mas lento e requerendo perícia e concentração se há que puxar o fio e formar relevos, figuras geométricas ou de animais. Fiar é trabalho tão amorosamente realizado que até com beijos se mistura, se é preciso emendar ou desenvencilhar o fio.
André Filipe
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