O São Sebastião, em Arcos de Valdevez (Vila)

Desde tempos imemoriais, celebra a vila dos Arcos de Valdevez a vigília do mártir S. Sebastião, de 19 para 20 de Janeiro.
Todas as casas se munem de tigelinhas com pavios embebidos em cera ou outra substância gordurosa capaz de alimentar a chama e, ao toque de Trindades, acendem-nas por trás dos vidros das janelas. Á medida que a noite vai caindo e a escuridão se adensa, é uma visão de sonho a que desse facto resulta, sobretudo quando apreciada de longe ou do jardim da beira-rio, pois o suave pendor em que se elevam as ruas permite captar muitos milhares de luzinhas tremeluzentes e vislumbrar a silhueta dum casario onde não faltam graciosidade de linhas nem imponência. Mas não se limita a isso a tradição.
No largo da Lapa, erguem-se fogueiras, como acontece por ocasião dos festejos de Santo António, São João e São Pedro, e há danças, cantares e petiscos que se prolongam até altas horas da madrugada.
É assim a gente dos Arcos, como afinal a de todo o Minho: amiga de honrar os santos e de agradecer graças recebidas, mas também ávida de pretextos para afugentar tristezas e quebrar a monotonia da vida. O Inverno é geralmente rude, com céu mais vezes cinzento, chuva, frio e vento agreste. Não admira pois, que se tenha associado o profano ao que, na origem, terá sido apenas homenagem e festa religiosa em honra e louvor do Santo que se invoca como protector contra a fome, as pestes e a guerra.
Nem pode ver-se nisto mal algum, mas apenas um imperativo de espírito desejoso de manter o equilíbrio, a fim de poder encarar a vida não como um fardo, mas antes como um dom que se estima e é grato preservar.
Até que Deus chame, o que não deseja o minhoto senão quando já velhinho e alquebrado, pois tão afeiçoado está a este cantinho onde Deus o colocou que, mesmo contando com a felicidade plena do Céu, tem sempre pena de o deixar.